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Caracteriologia

Tratado sobre Caracteriologia

Em determinado ponto de suas descobertas sobre a couraça neuromuscular e da busca de desenvolver técnicas bioenergéticas desencouraçantes, Reich apresenta o importante entendimento de que é preciso descobrir os mecanismos que fazem com que o organismo, após passar por algum processo de desencouraçamento, se reencourace nos mesmos padrões anteriores.

Não adianta desenvolver técnicas desencouraçantes se não for analisado o conjunto de padrões orgânico-comportamentais que, com o tempo, reencouraçam o corpo nos mesmos moldes de antes.

A esse conjunto de padrões podemos chamar de “caráter”.

Por isso o termo completo do fenômeno descoberto por Reich é

couraça neuromuscular do caráter”.

O Caráter é, numa só frase, a forma peculiar e habitual de agir e reagir a situações e pessoas. Está associado à história de vida de cada um, as defesas e estratégias desenvolvidas para sobreviver emocionalmente no ambiente em que fomos criados.

Reich investe na Análise do Caráter por ser a parte mutável da Personalidade, estando relacionado com o controle e plena utilização da musculatura voluntária, o que só começa a ocorrer a partir do terceiro mês depois de nascimento.

Antes disso, da concepção, passando por toda vida uterina e nos primeiros meses depois do nascimento não há caráter, a criança é totalmente temperamental. Temperamento é a parte imutável da Personalidade, aquele jeito de ser que toda criança já tem ao nascer, distinto de todas as outras.

É importante frisar que o caráter de cada um é único. Resultado das suas experiências de vida e suas possibilidades de resposta a partir de seu temperamento único, que vão construindo com a experiência, erros e acertos, reações do meio, etc. um jeito peculiar de ser.

Existem, porém, padrões gerais de caráter formadores de padrões individuais.

Numa visão contemporânea não procuramos nos enquadrar em tal ou qual tipo geral de caráter, mas sim perceber que somos todos formados por traços caracteriais, também presentes no caráter de outras pessoas com diferentes intensidades.

O estudo dos diversos tipos de caráter não é exclusivo e nem se inicia com Reich. Antes dele, Freud, Karl Abraham, Adler e muitos outros médicos e psicanalistas dedicaram-se à caracteriologia.

O que Reich inaugura é o estudo do caráter associado ao corpo, suas contenções neuromusculares, seu comportamento habitual, suas posturas cronificadas, sua forma de respirar, seus segmentos anelares, sua distribuição energética, seu histórico fisiológico, etc.

Exemplos simples seriam: traço narcísico associado ao pescoço, traço depressivo à boca, traço psicótico aos olhos, traço masoquista ao diafragma, etc.

Dentro da caracteriologia reichiana, alguns neoreichianos como Alexander Lowen e Ângelo Gaiarsa dedicaram-se a descrever estruturas de caráter, criando suas próprias obras sobre o assunto. Mas, as principais obras de caracteriologia reichiana vem do ramo pósreichiano representado por Ola Raknes com seu livro Análise do Caráter e Federico Navarro com seu livro Caracteriologia Pós-reichiana, que introduz novos como caracterialidade e cobertura caracterial em substituição à estrutura de caráter.

A Caracteriologia no método ABCΨΣ, a partir do passo dado por Navarro, procura dar mais um no sentido de continuar quebrando a concepção estrutural do caráter, entendendo-o como uma colcha de retalhos caracteriais, única e nunca antes catalogada, diferente em cada indivíduo. Pode parecer dicotômico, mas entendo que a principal função de estudar e conhecer muito bem os padrões de caráter descritos por Freud, Reich, Lowen e Navarro, consiste em superá-los a ponto de poder esquecê-los todos em dado momento e simplesmente olhar para o ser humano que está a nossa frente.

Os traços caracteriais podem também ser chamados de jeitos de ser. A caracteriologia do método abcpsigma busca analisar os muitos, diversos e diferentes jeitos de ser que compõe o conjunto que define um caráter. Muitas vezes quem melhor consegue representar um jeito de ser não é um nome, mas uma expressão corporal, um gesto, uma movimentação de mãos que geralmente a própria pessoa faz ao se expressar sobre o que percebe de si mesma.

Há muitas formas de localizar o que estou chamando de “jeito de ser” – célula básica da psicossomanálise: através de padrões de comportamento que percebemos se repetirem ciclicamente em nossas vidas, através de tons de voz crônicos, gestos automatizados, trejeitos, manias.

Depois de localizado o jeito de ser pode então ser nomeado ou representado por aquele gesto. Isso permite falar mais sobre ele, associá-lo a outros momentos em que ele influenciou os fatos de nossa vida, como ele está em pequenas e grandes coisas que fazemos, como pode ser sutil ou escancarado, e como reflete nossos sentimentos com relação ao mundo e às pessoas, bem como as crenças e ideologias que carregamos e reproduzimos automaticamente em nossos discursos.

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Obra registrada na Creative Commons by Fabio Veronesi

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