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Autogestão

Autogestão Presente

Autogestão é uma forma de organizar e orientar a produção coletiva.

Ela é diferente das utilizadas pelas empresas e instituições capitalistas liberais porque é baseada na ideologia socialista libertária. Sua hierarquia não é pré-estabelecida. Sua estrutura não é piramidal, ou melhor, não é uma pirâmide fixa, mas sim pirâmides que sobem e descem a partir das diferentes lideranças que emergem em cada situação.

Em Autogestão o objetivo pessoal do trabalhador está diretamente associado ao objetivo da empresa. Por isso não há “emprego”.

Emprego significa uso para um objetivo, como empregamos uma ferramenta para fazer um serviço. A ferramenta é inconsciente do objetivo do trabalho. Ela serve ao objetivo de quem a utiliza.

A relação entre os objetivos pessoais do empregado e objetivos da empresa empregadora são entre um trabalhador que precisa ganhar dinheiro e uma empresa que lhe paga para utilizar seu tempo e energia de trabalho direcionados para os objetivos da empresa. O “ganhar dinheiro” é o objetivo comum, intermediário aos objetivos pessoais do trabalhador e os objetivos da empresa, que consegue manter a relação de trabalho entre eles, mesmo quando não há nenhum sentido pessoal para o empregado, relacionado ao trabalho que ele realiza para seu empregador. 

Uma das bases da Autogestão é a conexão direta entre os objetivos pessoais dos trabalhadores e os objetivos do empreendimento coletivo.

Alguns parâmetros definem o que é Autogestão:

livre associação/secessão, consenso e hierarquia mutante – lideranças emergentes, situacionais. Parâmetros que são base para o conjunto de regras criado pelo grupo na prática de seu trabalho.

A Autogestão não está fora das regras. Pelo contrário, está na responsabilidade direta por elas, sua criação e seu cumprimento.

A diferença da autogestão está em não aceitar um conjunto de regras pré-estabelecido, mas criar o seu próprio.

O conjunto de regras próprio é de expansão interna, nasce no cerne do grupo de trabalho, entre os trabalhadores. Um conjunto de regras pré-estabelecido é aquele que já existia antes da chegada daqueles trabalhadores, ao qual eles tiveram que se adaptar tendo pouca chance de modificá-lo, é de influência externa, se impõe de fora para dentro do grupo de trabalho.

Crianças produzindo coletivamente é um excelente exemplo do quanto os humanos são naturalmente sinceros e autogestivos. Emitem suas opiniões umas sobre as outras diretamente umas para as outras.

O processo de criação/educação reprime essa manifestação que, como um rio quando represado, transborda no fenômeno popularmente chamado “fofoca” – falar sobre o que nos afeta no comportamentos e/ou características de alguém para uma outra pessoa. Sem a fofoca as instituições de hierarquia fixa não sobreviveriam.

Na infância somos cotidianamente reprimidos em nossa espontaneidade.

Parece ter diminuído essa repressão quando comparada à do século passado. Mas acontece que ela só mudou de cara e, na prática, no resultado do processo chamado “criação” dos filhos encontramos adultos letárgicos não só quanto sua sinceridade com os outros e consigo mesmo como em sua quase toda sua expressão espontânea. Perceba que não é preciso castigar uma criança para reprimi-la em sua sinceridade, basta rir dela e ela entenderá que assim não entrará no mundo do adulto, que deve se adaptar para ser aceita e respeitada na roda de conversas de “gente grande”.

A Família é uma instituição que historicamente tem sustentado uma estrutura hierárquica fixa, seja patriarcal ou matriarcal. Ela prepara as crianças que nascem em seu seio para o ingresso em todas as outras instituições de hierarquia fixa como as escolas e as empresas capitalistas. A família compulsória sobrevive, se mantém e equilibra na base da fofoca entre e sobre o comportamento de parentes.

Autogestão é produção socialista. Para que possa ocorrer, necessita do resgate da criatividade, originalidade, espontaneidade e sinceridade de cada um, potencialidades que foram cotidianamente reprimidas em nossa educação.

Não adianta decretar a Autogestão dentro de um grupo de trabalho. Autogestão acontece naturalmente quando pessoas que tem um objetivo comum de produção podem se expressar livremente na manifestação de suas opiniões, lideranças, incômodos, prazeres, conhecimentos teóricos e práticos referentes ao trabalho coletivo.

Nascemos com tendência natural à autogestão, basta observar a dinâmica das crianças produzindo coletivamente suas brincadeiras. A criação ou educação que recebemos da Família e do tentáculo do Estado chamado Escola é um processo em que desaprendemos como produzir coletivamente com liberdade de expressão, ou melhor, não desenvolve o talento nato que temos para isso e incentiva o desenvolvimento da forma individualista de se produzir em grupo. Na Escola nos colocam obrigados a prestar atenção em um professor que fala muito e impedidos de nos comunicar entre nós – o coletivo de alunos da sala – enquanto ele estiver falando. O resultado é que a grande maioria dos adultos desaprende a coletivizar e não consegue produzir em autogestão. É preciso que haja um processo de resgate da manifestação de suas originalidades para uma verdadeira quebra com as hierarquias fixas.

Autogestão é algo que se reconquista. Um presente com o qual nascemos e que nos foi roubado. Uma capacidade inata que foi reprimida, mas pode se expressar novamente com plena potência ao encontrar ambiente e oportunidade para isso.

 

+ sobre AUTOGESTÃO

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